29 out O conhecimento simplifica a acessibilidade e aumenta o público dos produtos audiovisuais
Por Chico Faganello, produtor de acessibilidade audiovisual
Esta semana estamos lançando os primeiros conteúdos do Curso de Acessibilidade Audiovisual para quem quiser aprender que já não existem limitações técnicas para que todos os conteúdos imagéticos sejam acessíveis em qualquer tela, desde as salas de cinema até as dos celulares.
Filmes, séries, novelas, propagandas, websites, educação à distância – qualquer produto que use imagem fixa ou em movimento – pode facilmente alcançar mais de 16 milhões de pessoas com deficiência que atualmente estão praticamente banidas da indústria do entretenimento e da educação no Brasil.
Paulatinamente, até o final de 2021, todas as mais de 100 horas de videoaulas e os textos do curso estarão disponíveis online. Esperamos convencer profissionais de comunicação, cultura, educação, economia e muitos outros, que é possível aumentar a oferta de produtos audiovisuais acessíveis, facilitar o trabalho de empresas e pessoas que atuam direta ou indiretamente com o audiovisual, e estimular o uso da tecnologia. Queremos que a indústria se fortaleça com a acessibilidade e promova a inclusão, mas não por imposição legal, e sim por empatia, conhecimento e estratégia de mercado. No cinema, na TV, no streaming e entre grandes e pequenos players.
Plataforma EAD com recursos de acessibilidade
Vamos começar com experiências, feitas com a ajuda de pessoas cegas e surdas, usando tecnologias inovadoras na Educação à Distância. Estamos provocando desenvolvedores e outros profissionais a criarem plataformas e recursos de acessibilidade específicos para a educação, e para serem operados com novas tecnologias. Até onde sabemos, nossa plataforma de EAD será a primeira do Brasil que contempla recursos de acessibilidade – claro que podem ser aperfeiçoados, como tudo na vida. Mas aprendemos que o importante é a atitude e que, depois de iniciada, a acessibilidade fica mais fácil.
O curso trata de tradução audiovisual acessível, na prática, da criação ao consumo de qualquer produto audiovisual. Nossos temas estão relacionados com os vários aspectos de legendas, da Língua Brasileira de Sinais e da audiodescrição, que ajudam pessoas surdas e ensurdecidas, cegas e ou com baixa visão, daltônicos, com deficiências intelectuais, idosos e outros consumidores.
Ninguém mais, hoje em dia, pensa em um produto audiovisual para apenas uma janela e para um público. Vamos tratar de acessibilidade gravada e também ao vivo, de textos escritos e narrados, de imagens estáticas e em movimento, porque basicamente os princípios de acessibilidade são os mesmos, e cada vez mais o audiovisual se torna multiplataforma, e os conteúdos são transmídia. Quer dizer, este é um curso específico para quem lida com cinema, mas também para quem trabalha com arte, educação, e onde quer que se insiram as diferentes formas de comunicação.
Reposicionar a acessibilidade no início da cadeia produtiva do audiovisual
Como os princípios, ou fundamentos da acessibilidade já são conhecidos, testados e consolidados há décadas, não é preciso reinventar a roda – basta aplicá-los, nas suas formas e processos diferentes, com as tecnologias atuais, deixando ao consumidor que julgue qual é o estilo ou a escola adequada a cada produto. Quer dizer: vamos fazer algo simples mas robusto, ativo e descomplicador.
No Brasil temos leis, excelentes profissionais, tecnologias, e principalmente público à espera de maior oferta de produtos acessíveis. O que falta é conhecimento, para que a acessibilidade seja reposicionada no audiovisual, do final da cadeia produtiva, onde está hoje, para o início. E com planejamento e conhecimento, a indústria pode produzi-la de forma mais fácil e econômica. Já sabemos como funciona.
Falta também uma mudança na forma de considerar as pessoas com deficiência, que sempre ficam lá na área de responsabilidade social, e nunca vem para uma estratégia de empatia ou de mercado. Pessoas cegas e surdas também são consumidores, e com alta taxa de engajamento nas suas comunidades, bem organizadas e conectadas.
Acessibilidade nos currículos das faculdades
Se a acessibilidade é pensada desde o início de cada projeto, seja um filme, website ou plataforma de EAD, pode ser econômica e muito útil. Do mesmo modo que um produtor faz uma tradução do seu filme para o mercado japonês, ele precisa de uma tradução audiovisual acessível. Embora seja uma prática relativamente recente, a acessibilidade quase sempre pode ser feita. O problema é que ela não chega ao consumidor, e isso não é apenas responsabilidade do produtor, mas fruto da falta de integração dos conhecimentos pré-existentes, que podem ser muito mais aperfeiçoados com boas práticas de todos os participantes da indústria, em toda a cadeia, até a distribuição.
Por exemplo: as faculdades de cinema, de propaganda, de jornalismo e de várias outras áreas que usam o audiovisual, não tem a acessibilidade nos seus currículos. Tudo seria mais fácil se na universidade os estudantes tivessem disciplinas sobre o assunto. A acessibilidade seria rotina nos seus trabalhos.
O “não pode”, ou “não é possível”, ou “é muito caro”, já não é aceitável. É possível, sim. Não existe varinha mágica, e todo mundo pode começar aos poucos, de maneira simples. E logo vai ver que dominará os processos e tecnologias necessários, mas sempre com aperfeiçoamento constante, como em tudo na vida, e com a fundamental ajuda dos consumidores e profissionais atualmente fora do mercado, as pessoas com deficiência.