23 mar |Entrevista| Super Plunf: seu alimento pronto em 5 segundos
“Super Plunf” é uma máquina que prepara alimentos armazenados por ela mesma em 5 segundos. Só que os alimentos produzidos por ela não são tão saudáveis e saborosos quanto os produtos naturais. Segundo Henrique Oliveira, um dos diretores do Super Plunf, a proposta do curta é refletir sobre as experiências alimentares presentes em nosso cotidiano.
Confira na entrevista:
Por que super Plunf? Qual o significado da máquina?
A criação do argumento foi motivada pela intenção de refletir sobre as mudanças na experiência alimentar, partindo de elementos concretos, presentes no cotidiano. Imaginamos um alimento que ficasse pronto em poucos segundos e que também fosse consumido rapidamente, quase sem exigir mastigação. O Super Plunf leva apenas cinco segundos para ficar pronto e faz um som peculiar: “plunf”.
A máquina de preparo do Super Plunf, a “plunfeira” é uma espécie de microondas, misturado com junkie box, máquina de refrigerante e café expresso. Ela sintetiza a redução do tempo de preparo do alimento e também a redução dos elementos que compõem o espaço de preparo e consumo de alimentos no ambiente doméstico. Estes elementos ficaram reduzidos à máquina, que também estoca caixas de comida, à lixeira e à mesa do computador, que serve de lugar de refeição.
Há uma crítica a alimentos enlatados, de onde ela surgiu?
Procuramos levar a criança a refletir que as formas de alimentação instantânea praticadas contemporaneamente possuem uma história, que envolve um conjunto de situações: objetos, materiais, tecnologias, hábitos, gestos, relações sociais, gostos etc. Buscamos sintetizar esta história através de três grandes momentos: a tendência à alimentação ultra processada e de preparo instantâneo da sociedade contemporânea; as práticas alimentares decorrentes da revolução industrial, com a difusão de eletrodomésticos e de alimentos enlatados ou congelados; e as práticas alimentares anteriores à revolução industrial, que remetem a um largo período de tempo, que se estende até os primórdios da agricultura no período Neolítico. Nesse sentido, o cenário em que aparecem os eletrodomésticos – (geladeira, liquidificador), o fogão a gás e os alimentos enlatados – foi concebido para mostrar um momento de ruptura, um momento em que a implantação de novas tecnologias no ambiente doméstico era acompanhada da promessa de reduzir o tempo dedicado ao preparo da alimentação.
Qual o propósito do uso da banda sonora como eixo narrativo?
Durante o desenvolvimento do roteiro chegamos a um impasse. Havíamos concebido as características de três ambientes alimentares que permitiam situar as transformações na alimentação, o que permitia expor um conteúdo histórico, mas faltava uma situação dramática que impulsionasse o personagem a percorrer os diversos ambientes e que envolvesse o espectador. Foi nessa busca por um conflito que motivasse o personagem. que surgiu a ideia de que o personagem queria produzir uma música com os ruídos do ambiente alimentar. A criação da música começa com o som produzido pela plunfeira. Qual som incluir depois da melodia da máquina e do “plunf”? O menino ficou impressionado com o som que o coelho produziu após comer um pedaço de cenoura. Gravar este som se tornou o seu objetivo. Quando concebemos esta situação, percebemos o quanto os ruídos poderiam ajudar a caracterizar as diferenças entre os três ambientes alimentares. Assumimos o desafio de criar uma narrativa que pudesse ser compreendida sem diálogos, uma história que pudesse ser contada apenas através da articulação das imagens e dos ruídos. O filme foi exibido em diversos países sem precisar de tradução.
Qual a importância da exibição do curta em sua versão em audiodescrição?
Há diversos signos visuais e sonoros cuja decodificação contribui para a construção de sentidos na narrativa do Super Plunf. Fizemos diversas experiências de exibição em escolas e os sentidos construídos pelas crianças transbordam as intenções iniciais. É muito interessante conhecer como estes signos funcionam na experiência de fruição por parte dos deficientes visuais. A versão com audiodescrição têm o desafio de ativar no receptor os signos que ficam mudos ou invisíveis. A palavra escrita ou falada tem a função de trazer elementos para a síntese sensorial.
Como você acha que este público, principalmente os surdos irão reagir ao filme, uma vez que a música é muito importante na condução da película?
Tenho muita curiosidade em conhecer como ocorrerá a recepção por aqueles que não tem acesso ao áudio ou à imagem. Seria interessante fazer uma primeira exibição sem legenda ou audiodescrição, e uma segunda exibição com esta camada suplementar de informação. Que roteiros de acontecimentos os deficientes visuais construiriam apenas guiados pelos ruídos dos ambientes e pelas músicas? Sugerir o ambiente sonoro para os surdos me parece mais difícil, talvez fosse necessário uma experiência tátil, que sugerisse as diferenças nos ritmos e nas texturas sonoras.
Lançado na mostra de cinema infantil de 2015, Super Plunf ganha hoje sua versão em audiodescrição.
Assista: